Em tempos em que o mundo parece normalizar a guerra, o papa Francisco seguiu na contramão: fez da defesa da vida e da dignidade humana o centro do seu pontificado. Ao completar 12 anos à frente da Igreja Católica, sua voz ecoa como uma das mais consistentes contra os horrores dos conflitos armados — da Ucrânia a Gaza, passando por Sudão, Congo, Líbano, Iêmen e Síria.
Na sua última aparição pública durante o domingo de Páscoa, Francisco voltou a pedir cessar-fogo em Gaza e paz para a Ucrânia. Era mais uma de suas muitas manifestações públicas que, ao longo dos anos, confrontaram não apenas governos, mas também a indiferença da comunidade internacional.
📞 O líder da Igreja chegou a telefonar, quase todas as noites, para a paróquia católica em Gaza. Queria saber como estavam os fiéis, os civis, os inocentes. No Natal de 2024, não poupou palavras:
“É com dor que penso em Gaza. Ontem foram bombardeadas crianças. Isto é crueldade. Isto não é guerra.”
Francisco também levantou uma das questões mais sensíveis da atualidade: a possível caracterização da ofensiva de Israel em Gaza como genocídio. Denunciou os bloqueios à ajuda humanitária e criticou a desproporcionalidade das ações militares.
“A defesa deve ser sempre proporcional ao ataque. Quando há algo desproporcional, você vê uma tendência de dominação que vai além da moralidade”, afirmou em setembro de 2024.
⛪ O padre Gabriel Romanelli, responsável pela paróquia em Gaza, revelou que sua última conversa com o Papa foi no sábado (19).
“Esperamos que os apelos que ele fez sejam atendidos: que as bombas sejam silenciadas, que esta guerra termine, que os reféns e prisioneiros sejam libertados, e que a ajuda humanitária à população possa chegar”, disse ao Vatican News.
🌍 Contra a guerra, contra a indústria da morte
A guerra na Ucrânia também foi alvo de constante preocupação do Papa. Ele e representantes do Vaticano tentaram intermediar diálogos, defenderam trocas de prisioneiros e tréguas humanitárias.
Em 2022, antes do primeiro ano do conflito, Francisco fez um alerta que atravessou os muros do Vaticano e as fronteiras políticas:
“Em um século, três guerras mundiais! Esta é uma guerra mundial. Quando impérios se enfraquecem, fazem guerras para parecer fortes — e também para vender armas. A maior calamidade do mundo é a indústria das armas.”
✍️ Encíclicas: a denúncia escrita do silêncio global
Na sua encíclica mais recente, publicada em outubro de 2024, Francisco escreveu com clareza:
“Podemos pensar que a sociedade mundial está a perder o seu coração.”
Foi uma denúncia à indiferença internacional diante de guerras recorrentes, de mortes evitáveis, de avós que enterram netos e perdem suas casas, e que seguem chorando sem que o mundo se comova.
Em 2015, na encíclica Laudato Si’, o papa já previa o agravamento do cenário:
“É previsível que, perante o esgotamento de alguns recursos, se vá criando um cenário favorável para novas guerras, disfarçadas sob nobres reivindicações.”