Na esteira de uma inflação galopante, a criatividade dos baianos não para: é “driblar os preços” que sustenta a rotina de Ionara de Jesus, 43 anos, que vive com seus três filhos – uma jovem acamada de 24 anos, e dois adolescentes de 15 e 13 – no Parque Santo Antônio, na periferia de São Paulo. Em uma jornada diária pelos corredores de um supermercado da Zona Sul, Ionara utiliza estratégias engenhosas para amenizar o impacto dos preços exorbitantes dos alimentos.
Enquanto as gôndolas exibem etiquetas que desafiam o bolso, Ionara revela seu truque de substituição: ao invés do feijão tradicional, que pode custar até R$ 7 o quilo, ela opta pelo feijão fradinho, que sai por quase metade do preço. “Vou adicionando água à panela toda vez que cozinho, assim rende mais e o gasto diminui”, explica a moradora, que se vê obrigada a repensar seu carrinho de compras para alimentar a família.
O cenário é agravado pela inflação dos alimentos, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atingiu 7,69% no último ano, comparado a um modesto 1,11% registrado em 2023. Essa disparada nos preços tem raízes em múltiplos fatores, entre eles os resquícios da pandemia de covid-19 e variações climáticas que elevaram os custos de produtos essenciais, como café e azeite. O economista André Braz, do FGV-Ibre, destaca que “a única coisa que podemos culpar deste governo é a valorização do dólar, fruto da incerteza fiscal”, apontando para um cenário de instabilidade que recai sobre os consumidores.
Para Marisa Munção, diretora de uma entidade de defesa do consumidor, itens que antes faziam parte da rotina – como café e ovos – transformaram-se em verdadeiros artigos de luxo, com aumentos expressivos de preços que chegam a 50% e 40%, respectivamente, no acumulado dos últimos 12 meses.
Esse contexto de instabilidade econômica e a pressão dos preços obrigam famílias como a de Ionara a adotarem “dribles” na hora de montar suas compras. A engenhosidade de adaptar receitas, optar por alternativas mais baratas e encontrar formas de aumentar a durabilidade dos alimentos é uma resposta necessária para sobreviver a um cenário que parece não ter fim.
Enquanto o governo tenta encontrar soluções macroeconômicas para a crise, no cotidiano dos brasileiros a batalha continua nas gôndolas e nos fogões, onde cada quilo de feijão e cada pacote de farinha representam um desafio a ser vencido com criatividade e resiliência.
Fonte: Uol