O Banco Central deve elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano nesta quarta-feira, o maior patamar em quase 20 anos, numa tentativa de esfriar a economia e conter a inflação, que segue surpreendendo. A decisão, que marca o quinto aumento consecutivo, foi antecipada por especialistas e aguarda anúncio no fim da tarde, enquanto o cenário macroeconômico brasileiro se ajusta às pressões inflacionárias.
Com a Selic subindo de 13,25% para 14,25%, o BC busca reduzir a demanda por crédito e frear a atividade econômica, uma estratégia necessária para conter a inflação, que, em fevereiro, registrou 1,31% – o maior índice para o mês desde 2003. No acumulado de 12 meses até fevereiro, a inflação chegou a 5,06%, o nível mais elevado desde setembro de 2023. Segundo o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, sinais de moderação já são visíveis no PIB do último trimestre de 2024, mas um arrefecimento mais profundo é indispensável para voltar à meta de 3%, que, com o sistema de meta contínua, considera-se alcançada se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Essa decisão ocorre no segundo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) sob a liderança de Gabriel Galípolo, o novo presidente do BC, indicado por Lula, que assume com uma diretoria majoritariamente alinhada com a atual gestão. Essa mudança contrasta com o cenário anterior, quando o presidente Roberto Campos Neto e sua equipe eram as principais referências, durante o governo Bolsonaro.
Enquanto o BC mira no segundo semestre de 2026 para equilibrar as projeções – com expectativas de inflação para 2025, 2026, 2027 e 2028 em 5,68%, 4,40%, 4% e 3,75%, respectivamente – os investidores internacionais também estão atentos. Horas antes do anúncio, o Federal Reserve dos EUA deve confirmar a manutenção dos juros entre 4,25% e 4,50%, num cenário onde as tarifas comerciais impostas por Trump continuam a gerar inquietação no mercado global.
No entanto, a estratégia de elevar os juros para conter a inflação tem sido alvo de críticas de autoridades do governo federal, como o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que já classificou a medida de “imbecilidade”. Mesmo assim, para especialistas, a alta da Selic é um instrumento fundamental para enfrentar os desafios atuais: ela impactará as taxas bancárias, conterá o consumo, afetará investimentos e terá reflexos significativos nas contas públicas, aumentando os gastos com juros da dívida.
Com essa reestruturação da política monetária, o BC reafirma seu compromisso de atuar com base em projeções futuras – lembrando que as mudanças na taxa Selic demoram de seis a dezoito meses para surtir efeito pleno na economia. Em meio a esse cenário de ajustes e incertezas, o Brasil tenta equilibrar o crescimento econômico com a necessidade de manter a inflação sob controle, numa batalha que afeta diretamente o bolso dos brasileiros, sobretudo os mais pobres.