Professora líder da greve recebe acima do piso e levanta vaquinha
A greve dos professores municipais de Salvador, marcada por protestos e discursos inflamados, ganhou um ingrediente polêmico que levanta questionamentos sobre coerência, privilégios e manipulação política. A protagonista da vez é Denise Silva de Souza, professora e uma das principais lideranças do movimento — e também esposa do deputado estadual Hilton Coelho (PSOL).
Enquanto a categoria reivindica a implantação do piso nacional de R$ 4.867,77, Denise recebeu R$ 15 mil líquidos em maio e um salto para R$ 28 mil em junho, conforme registros da transparência pública da prefeitura. Os valores chamam atenção principalmente porque, mesmo com a greve declarada ilegal pela Justiça e com indicativo de corte de ponto, ela continua recebendo normalmente.
O detalhe que acendeu o alerta: ela lidera uma campanha de arrecadação online — uma “vaquinha” — para ajudar colegas supostamente prejudicados pelos cortes, sem mencionar seu próprio contracheque polpudo. O gesto, que à primeira vista parece solidário, ganhou contornos de hipocrisia nas redes sociais, ao expor uma desconexão entre discurso e prática.
A situação levanta perguntas desconfortáveis: até que ponto o movimento grevista tem sido usado como palanque político? E quantos professores de fato têm condições de sustentar a paralisação prolongada, enquanto lideranças orbitam os altos salários e os gabinetes de deputados?
O PSOL, partido de oposição e conhecido por sua retórica combativa, tem um histórico de atuação junto aos sindicatos, mas a narrativa da “luta pela base” perde força quando confrontada com privilégios de dentro da própria base.
O desgaste atinge diretamente a legitimidade do movimento. A greve, que começou com bandeiras legítimas — valorização, carreira, estrutura — agora se vê sufocada por suspeitas de instrumentalização política e descolamento da realidade da maioria dos professores, que ganham muito menos e sofrem com condições precárias nas salas de aula.
Lutar por direitos é justo. Mas liderar essa luta ganhando quase R$ 30 mil e pedindo doações sem transparência — aí a história muda de tom.