A nomeação de José Bonifácio Marques Dourado (MDB), ex-prefeito de Ruy Barbosa, para um cargo técnico na Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento da Bahia (SIHS), provocou indignação e levantou questionamentos sobre os critérios éticos e políticos adotados pelo governo de Jerônimo Rodrigues (PT).
Bonifácio é réu em uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), acusado de envolvimento em um esquema de desvio de verbas do Fundeb, fundo federal destinado exclusivamente à educação básica. Segundo a denúncia, o ex-prefeito teria participado de um grupo que simulava contratos de prestação de serviços educacionais com empresas de fachada, gerando prejuízo aos cofres públicos.
Mesmo com as investigações em curso, o ex-gestor foi nomeado para um cargo estratégico dentro da estrutura do Estado, responsável por acompanhar obras e projetos de saneamento — uma função que exige idoneidade e confiança pública.
A repercussão foi imediata. Entidades ligadas à educação, além de parlamentares da oposição, criticaram a decisão e classificaram a nomeação como um “premio à impunidade”. Para muitos, o episódio revela a contradição entre o discurso moralista e as práticas políticas de bastidor, especialmente em um momento em que o governo baiano enfrenta denúncias de apadrinhamento e loteamento de cargos.
Enquanto isso, professores e estudantes continuam convivendo com escolas precárias, falta de merenda e infraestrutura deficiente — problemas que se agravam no interior da Bahia, onde o Fundeb deveria cumprir papel essencial no combate à desigualdade educacional.
A nomeação de Bonifácio ocorre num contexto em que o governo tenta manter o apoio do MDB, partido que integra a base aliada. A movimentação é vista como parte de um acordo político maior para garantir estabilidade na Assembleia Legislativa, mas que, na prática, acaba reforçando a imagem de conchavo e desrespeito à transparência pública.
O caso ainda deve gerar desdobramentos jurídicos e políticos. O MPF segue acompanhando o processo que investiga o uso indevido das verbas do Fundeb, e setores da sociedade civil cobram a imediata exoneração do ex-prefeito até que a Justiça conclua as apurações.
📌 Análise Soberana
O episódio escancara o dilema ético da gestão pública na Bahia: enquanto o Estado prega moralidade e eficiência, mantém nos bastidores uma lógica de alianças que despreza o mérito e a confiança do cidadão.
O caso Bonifácio é mais do que um erro administrativo — é um retrato do distanciamento entre o poder e a sociedade, e um lembrete de que a Bahia não pode normalizar o escândalo como método de governo.





