A GUERRA NO RECÔNCAVO

A tensão no Recôncavo Baiano voltou a crescer nas últimas semanas. Cidades historicamente tranquilas — Cachoeira, São Félix, Muritiba e Maragojipe — se tornaram palco de uma disputa violenta entre facções criminosas que tentam consolidar domínio territorial. A Polícia Civil e a Polícia Militar intensificaram operações para tentar impedir o avanço do Comando Vermelho (CV), que, segundo relatos de bastidores, já teria tomado áreas antes controladas pelo Bonde do Maluco (BDM).

O cenário atual combina ataques armados, ameaças diretas à população, confrontos entre grupos rivais e episódios de brutalidade extrema, que incluem corpos encontrados decapitados na zona rural da região.

Facções travam disputa aberta pelo controle do Recôncavo

Informações divulgadas por veículos locais e apuradas por fontes da segurança pública indicam que o Comando Vermelho vem investindo na expansão para o interior do estado, aproveitando brechas territoriais e fragilidades operacionais das forças policiais. A disputa teria se intensificado quando o BDM perdeu o domínio de São Félix, abrindo espaço para a ocupação por integrantes do CV.

Desde então, as cidades vizinhas passaram a registrar movimentações anormais, com ações coordenadas das facções e respostas emergenciais da polícia para tentar conter o avanço.

Toque de recolher imposto por facção acende alerta sobre controle social

Uma das situações que mais preocupou moradores foi o surgimento de um suposto comunicado atribuído ao BDM, que teria proibido a circulação de moradores entre Cachoeira e São Félix. O texto, que circulou entre grupos de WhatsApp, dizia:

“Não queremos ninguém da cidade de São Félix em Cachoeira e não queremos moradores da cidade de Cachoeira em São Félix”.

A imposição de restrições como essa evidencia o grau de domínio territorial que as facções tentam estabelecer — e o nível de vulnerabilidade das comunidades afetadas.

Ataque em Maragojipe deixou população em pânico

Em julho, segundo o Jornal Correio, criminosos do Comando Vermelho chegaram de barco a Maragojipe, atacaram veículos, destruíram estabelecimentos e deixaram explosivos caseiros. Moradores relataram momentos de pavor, reforçando a dificuldade de atuação policial em regiões banhadas por rios e cercadas por áreas de mata.

Operação policial tenta frear expansão, mas violência se intensifica

Uma operação realizada no dia 11 integra um trabalho investigativo que já vem sendo conduzido há semanas. Mas, apesar dos esforços, o período recente registrou episódios de violência extrema, com a descoberta de corpos decapitados em diferentes localidades.

Dois corpos foram encontrados sem cabeça em menos de 48 horas — um em São Félix e outro em Maragojipe. A Polícia Civil apura se os assassinatos têm relação direta com a disputa entre CV e BDM, já que as cenas dos crimes apresentaram características semelhantes.

O caso mais recente ocorreu no domingo (2), quando o corpo de um homem foi localizado decapitado na comunidade rural de Areal Amorim, em São Félix. A vítima ainda não havia sido identificada até o fim da manhã, e há suspeita de execução ligada a facções. No dia anterior, outro corpo sem cabeça foi encontrado em Nagé, zona rural de Maragojipe.

Território extenso e zonas rurais favorecem fuga e ocultação

A polícia enfrenta dificuldade para controlar o avanço das facções devido a características geográficas da região:

grandes extensões rurais

rede fluvial que facilita deslocamento e entrada de criminosos

áreas de mata usadas como esconderijo e rota de fuga

Esses elementos tornam as operações complexas e exigem reforço de inteligência, monitoramento e contingente.

Clima de medo domina moradores do Recôncavo

Entre toques de recolher, ataques armados, invasões e execuções brutais, a população tem convivido com um ambiente marcado pela insegurança. Enquanto isso, as forças policiais tentam reequilibrar o cenário e impedir que facções ampliem sua presença na região.

A disputa entre Comando Vermelho e Bonde do Maluco expõe a fragilidade do controle territorial e a urgência de ações integradas — não apenas para conter a violência, mas para devolver às cidades a normalidade que vem sendo corroída pela guerra criminosa.