Na Bahia, as engrenagens da política se movem com a precisão de quem sabe jogar o velho jogo das conveniências. A mais nova articulação envolve a sucessão no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-BA). A cadeira será aberta com a aposentadoria do conselheiro Mário Negromonte, que completa 75 anos. O nome que desponta para ocupar o posto não é fruto de disputa ampla ou de debate técnico: trata-se de Camila Vasquez Negromonte, sua nora e esposa do deputado federal Mário Negromonte Jr. (PP).
Camila é procuradora do Ministério Público de Contas e cumpre os requisitos formais para a vaga. Pelo Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2010, o assento destinado ao MP deve ser preenchido por alguém da carreira. Até aí, o discurso oficial garante aparência de legalidade. Mas, nos bastidores, o que se comenta é que a nomeação está “fava contada” graças a um acordo político costurado entre a família Negromonte e o governador Jerônimo Rodrigues (PT).
O acerto não se limita à cadeira vitalícia no TCM. Envolve também espaços estratégicos no governo estadual, como cargos no Detran-BA, em especial a Diretoria de Habilitação. Um arranjo que serve de moeda de troca para reforçar o apoio do PP ao projeto petista de 2026.
Mais uma vez, o que se observa é a interseção entre poder e família. A vaga que deveria simbolizar independência técnica acaba sendo transformada em peça de negociação política, perpetuando dinastias e fortalecendo alianças de conveniência.
Enquanto isso, a Bahia convive com problemas estruturais graves — violência em alta, serviços públicos em crise, economia estagnada — mas a prioridade da classe política continua sendo a ocupação de espaços de poder e a manutenção de feudos.
A nomeação de Camila, se confirmada, será apenas mais um capítulo de um enredo conhecido: onde cargos estratégicos não são conquistas da sociedade, mas moedas valiosas em tabuleiros de acordos eleitorais.
