A operação “Carbono Oculto”, deflagrada recentemente pela Polícia Federal contra o PCC, trouxe à tona um detalhe incômodo: a Reag Investimentos, apontada como peça central no esquema de ocultação de patrimônio do grupo criminoso, também mantém histórico de negociações com o governo da Bahia.
Desde 2017, ainda na gestão Rui Costa (PT), a empresa foi autorizada a elaborar estudos para o financiamento de um novo Centro de Convenções em Salvador. O projeto, estimado em R$ 400 milhões via Parceria Público-Privada (PPP), nunca saiu do papel. A iniciativa incluía também a criação de um complexo de negócios, e a empresa se apresentava como responsável por estruturar o fundo de investimento.
Na época, o próprio governo estadual destacou a formalidade da autorização, ressaltando que os custos ficariam a cargo da Reag, “sem ônus ao Estado”. No entanto, oito anos depois, a proposta segue tramitando, agora sob o comando de Jerônimo Rodrigues (PT), e com nova localização prevista para o Parque de Exposições, na Avenida Paralela.
O problema é que, enquanto o governo mantém aceso o interesse no projeto, a Reag passou a ser alvo da PF por sua ligação com o PCC. Segundo os investigadores, a empresa teria administrado fundos usados para dificultar o rastreamento de dinheiro ilícito. Com cerca de R$ 299 bilhões sob gestão e listada na B3, a gestora é considerada uma das maiores do país — e agora carrega o peso da suspeita de ter sido instrumentalizada pelo crime organizado.
A contradição salta aos olhos: como conciliar o discurso de transparência e responsabilidade fiscal com a parceria mantida, ainda que indireta, com uma empresa sob investigação tão grave? O episódio expõe falhas de governança, a fragilidade dos filtros de credibilidade adotados pelo Estado e a perigosa interseção entre grandes negócios e organizações criminosas.
Mais do que um problema jurídico, trata-se de um dilema ético e político: até que ponto governos podem fechar os olhos para a origem e os vínculos de seus parceiros em nome de “viabilizar projetos estratégicos”?
Se a Bahia quer manter sua imagem de referência nacional em gestão e desenvolvimento, precisará encarar de frente a necessidade de maior rigor na seleção de parceiros. Não basta anunciar grandes obras. É preciso garantir que o alicerce delas não esteja comprometido pela sombra da ilegalidade.