Os bastidores do Partido dos Trabalhadores na Bahia voltaram a ferver. O que antes era tratado como uma composição certa — a chamada “chapa dos sonhos” com Jerônimo Rodrigues, Jaques Wagner e Rui Costa — hoje enfrenta ruídos, indecisões e resistências internas que colocam em xeque a harmonia entre as principais lideranças petistas no estado.
A expectativa era de um alinhamento natural: Jerônimo buscando a reeleição ao governo, Wagner consolidando seu espaço no Senado e Rui, após anos de protagonismo, retornando ao cenário baiano com força eleitoral. Mas a realidade política se mostrou menos previsível.
Nos últimos dias, sinais contraditórios se multiplicaram. O senador Angelo Coronel (PSD) deve tentar a reeleição e não abre mão da cadeira que ocupa, o que obrigaria o PT a escolher entre Wagner e Rui para a segunda vaga majoritária ao Senado. Essa equação delicada reacendeu divergências e exigiu de Jerônimo uma habilidade rara: equilibrar o jogo sem abrir novos flancos.
“Eu quero ser candidato ao Senado”, declarou Rui Costa publicamente, ao mesmo tempo em que buscou acalmar os ânimos com Coronel e o PSD, para evitar fissuras na base aliada. Enquanto isso, Jaques Wagner, em seu estilo mais reservado, optou pelo silêncio estratégico, alimentando especulações de que Rui poderia substituí-lo na disputa.
A temperatura subiu ainda mais após vir a público a informação de que o presidente Lula teria pedido a Rui que permanecesse na Casa Civil durante o período eleitoral. O próprio Lula confirmou o pedido, mas deixou claro que não proibiria ministros de disputar cargos, gesto interpretado como um típico “morde e assopra” do presidente — firme na mensagem, mas calculadamente ambíguo.
Por trás da retórica, o episódio expôs um ponto sensível na engrenagem petista baiana: a sucessão de 2026 não será apenas sobre quem concorrerá, mas sobre quem comandará o futuro político do grupo.
A Bahia continua sendo o principal reduto eleitoral do PT fora do eixo Sul-Sudeste, e qualquer rachadura entre seus líderes históricos pode comprometer a unidade que sustenta o partido há quase duas décadas.
Até o momento, nenhuma definição foi oficializada. Jerônimo tenta preservar a coesão, Wagner observa, Rui se movimenta, Coronel se firma — e Lula, como sempre, observa o tabuleiro com a calma de quem sabe que, no fim, o jogo é dele.
🧭 Análise Soberana
A indefinição sobre a “chapa dos sonhos” revela o dilema do PT baiano: como renovar sem romper e como manter a força sem concentrar o poder.
O partido que dominou a política do estado desde 2006 agora precisa administrar a transição entre gerações políticas com diferentes estilos, vaidades e estratégias.
Jerônimo, embora popular, ainda é visto como uma liderança em construção. Wagner carrega o peso da experiência e Rui, o da máquina. Entre eles, o desafio é equilibrar ambições e preservar o projeto que consolidou o PT como força hegemônica na Bahia.





