O senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do Progressistas, usou o espaço de uma entrevista na CNN Brasil neste sábado (29) para fazer um recado direto — ao governo Lula, à base aliada e à própria sigla. “Se dependesse de mim, o PP não teria nada nesse governo”, declarou, ao criticar a presença do partido na estrutura federal.
A frase ecoa mais do que um desabafo: é a expressão de um desgaste crescente com os métodos de governabilidade adotados pelo Palácio do Planalto, principalmente no que diz respeito à distribuição de cargos e emendas. Ciro, que já foi ministro-chefe da Casa Civil no governo Bolsonaro, agora tenta reposicionar o PP num campo mais crítico e autônomo.
Durante o programa Agora CNN, o senador falou em tom firme contra o que chamou de “infestação de Brasília por cargos inúteis”. Apontou os juros altos (atualmente a 15%) como reflexo de gastos descontrolados, e acusou o atual governo de repetir os erros do passado: “Metade dos ministérios criados não servem para nada. Só para abrigar aliados.”
A crítica não é isolada. Internamente, o Progressistas vive uma espécie de divisão de identidade: de um lado, senadores e lideranças ligadas ao bolsonarismo, com perfil mais oposicionista; do outro, deputados — especialmente do Nordeste — que mantêm alinhamentos pontuais com o governo Lula. Ciro tenta alinhar o partido por cima, mas o cabo de guerra é evidente.
Ao ser confrontado pela deputada petista Maria do Rosário, que também participava do debate, o senador foi chamado de “inconsistente”. Ela criticou o que vê como uma postura ambígua do PP: “Um pé aqui, outro lá”, disparou.
Mas Ciro não recuou. Ao contrário. Reforçou que não aceita convite algum para integrar o governo atual e defendeu uma reforma estrutural do Estado, com redução de ministérios, cortes de cargos e fim das indicações políticas para funções técnicas.
A entrevista foi, na prática, um aviso. O Progressistas pode até ter nomes no governo. Mas o comando do partido — ao menos pela boca de Ciro — quer distância de um modelo que considera inchado, ineficiente e sem compromisso com a responsabilidade fiscal.
A política brasileira já não se divide apenas entre governo e oposição. Também se desenha em zonas cinzentas de conveniência. E, nesse cenário, Ciro Nogueira tenta empurrar o PP para fora da sombra — antes que seja engolido por ela.