A estratégia do governo Lula de apostar numa comunicação mais combativa pode estar provocando rachaduras dentro da própria base aliada. O deputado federal Otto Alencar Filho (PSD-BA), um dos nomes de confiança do Palácio do Planalto na Câmara, já manifestou publicamente sua preocupação com os rumos da campanha “Brasil com S de Soberania”.
A narrativa oficial, centrada na ideia de enfrentamento com elites econômicas e na taxação dos chamados “super-ricos”, tem gerado desconforto entre parlamentares do centro. Segundo Otto, o tom agressivo da comunicação pode ter um efeito colateral grave: afastar setores estratégicos para a governabilidade, como pequenos empresários, empreendedores e líderes regionais.
Em entrevista ao jornal O Globo, o deputado alertou que “é preciso equilíbrio”, destacando que justiça social não precisa significar confronto. Otto teme que o discurso de “nós contra eles” acabe desgastando a imagem do governo em um momento em que o Planalto tenta formar maiorias e ampliar alianças para projetos sensíveis no Congresso.
Nos bastidores, a campanha tem sido comemorada por setores ideológicos do PT, entusiasmados com o bom desempenho nas redes sociais. Mas entre os articuladores políticos, o sinal de alerta está aceso. “Se a ideia é unificar o país, não se pode governar em trincheira”, resumiu um líder da base que preferiu o anonimato.
A preocupação não é apenas de Otto. Vários parlamentares do chamado centrão já dão sinais de incômodo com o tom da comunicação petista. A dúvida que paira no ar é: até que ponto a retórica da soberania serve ao interesse nacional — e quando ela começa a isolar o governo de setores que ainda garantem sua sustentação?