A crise da pandemia foi dura para todos. Para uns, significou luto, medo e urgência. Para outros, oportunidade.
Durante o auge da Covid-19, o Consórcio Nordeste, então presidido por Rui Costa (PT), ex-governador da Bahia, autorizou o pagamento antecipado de R$ 48,7 milhões à empresa Hempcare para a compra de 300 respiradores pulmonares, equipamentos que nunca chegaram aos hospitais.
A empresa, que não tinha qualquer histórico no setor médico, usou os recursos públicos para pagar faturas de cartão de crédito, comprar carros de luxo e quitar despesas pessoais, segundo investigação da Polícia Federal. Nenhum paciente respirou por um só desses aparelhos.
O caso virou um símbolo de gestão temerária com dinheiro público em plena emergência sanitária. O pagamento antecipado, feito sem as garantias mínimas, burlou critérios de cautela elementares. Técnicos do Tribunal de Contas da União apontaram as falhas. Mesmo assim, Rui Costa e Carlos Gabas, secretário-executivo do Consórcio, foram inocentados por 5 votos a 2 pelo TCU.
A decisão dividiu opiniões e reforçou o argumento da oposição, que usa o episódio como exemplo da incoerência entre o discurso de moralidade e a prática administrativa do atual governo federal, do qual Rui é hoje ministro da Casa Civil.
Ainda assim, a tomada de contas especial aberta pelo TCU tenta recuperar o prejuízo. E a Polícia Federal segue com as apurações criminais contra a Hempcare e seus sócios.