Em meio à crise provocada pela seca no interior da Bahia, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) decidiu adotar uma postura desafiadora diante das denúncias de sobrepreço na compra de milho destinada a pequenos criadores. Durante solenidade no Parque de Exposições, nesta segunda-feira (6), o petista afirmou que “se fosse preciso comprar milho a R$ 200, compraria”, minimizando os questionamentos sobre os valores pagos pelo governo estadual.
A declaração ocorre após reportagem do Informe Baiano revelar que as 250 mil sacas de milho compradas pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), vinculada ao governo, custaram aos cofres públicos R$ 104 cada, enquanto o preço médio de mercado é de R$ 72. A diferença representa um possível sobrepreço de 44%, resultando em um custo total de R$ 26 milhões e um prejuízo estimado em mais de R$ 8 milhões.
Jerônimo defendeu a decisão dizendo que não deixaria os agricultores passarem necessidade. “Se fosse milho de R$ 200, eu comprava”, afirmou, em tom enfático.
No entanto, a fala causou desconforto entre especialistas e setores da sociedade civil, que enxergam na declaração um perigoso desprezo pela responsabilidade fiscal e pela transparência na aplicação de recursos públicos, especialmente em contextos emergenciais. “Comprar caro não é sinônimo de cuidar. É possível atender à população sem abrir brecha para desperdício ou favorecimento”, criticou um analista ouvido pela reportagem.
A CAR, que já vinha sendo alvo de questionamentos por contratos considerados atípicos, como o uso de empresa de locação de veículos para fornecer grãos, volta ao centro do debate sobre eficiência, controle e lisura na gestão pública.
Para os pequenos criadores que esperam o milho na ponta, a urgência é real. Mas para a sociedade, a conta também é. E ela precisa fechar, com responsabilidade.