O que antes era uma disputa velada por território, virou guerra aberta no coração do Sertão baiano.
A região de Irecê, que já foi símbolo de trabalho e agricultura, hoje vive dias de medo — marcada por execuções em série, ataques coordenados e a presença constante de homens armados, encapuzados e sem rosto.
No último sábado (25), três cidades — São Gabriel, Barro Alto e Irecê — foram palco de homicídios e tentativas de execução em sequência.
O padrão é sempre o mesmo: criminosos de preto, rostos cobertos por balaclavas, fugindo em motos sem deixar rastros.
Em São Gabriel, Vinícius Freire de Souza, de 25 anos, foi executado dentro de casa, na frente da esposa. Poucas horas depois, em Barro Alto, Uemerson de Souza Rocha, de 24 anos, teve o mesmo destino — rendido e morto por uma dupla armada.
Em Irecê, um homem foi baleado dentro de um bar. Escapou por pouco.
🚨 O rastro de sangue tem nome e origem.
De um lado, o Bonde do Maluco (BDM) — nascido em Cafarnaum, berço de figuras conhecidas do crime como Zé de Lessa, Paulo Escopeta e Xerife.
Do outro, o Comando Vermelho (CV), facção carioca que avança pelo interior da Bahia com um objetivo claro: tomar o controle das rotas e do dinheiro do tráfico.
⚠️ O mapa da disputa
Hoje, o território baiano está dividido como um tabuleiro:
O BDM domina a Estrada do Feijão (BA-052), principal corredor de transporte no Sertão;
O Comando Vermelho ocupa a rota do Rio São Francisco, especialmente em Xique-Xique e Barra, por onde circula a logística fluvial do tráfico.
Fontes policiais confirmam que a disputa é por poder logístico e financeiro, não por território simbólico. E quem paga o preço são os moradores — reféns de uma guerra que o Estado parece assistir de longe.
🩸 O berço do crime
Cafarnaum, cidade que viu nascer o BDM, é considerada o “berço do novo cangaço” — época em que explosões de bancos e confrontos armados colocavam o interior baiano nas manchetes.
Hoje, a violência mudou de forma, mas não de endereço. O Sertão segue dominado, e a sensação entre os moradores é a mesma: ninguém controla mais nada.
💬 Entre o medo e o silêncio
Moradores relatam noites de tiros, ruas desertas e um clima de tensão que virou rotina.
O policiamento é insuficiente e o Estado, mais uma vez, chega depois do crime.
Enquanto isso, as facções impõem sua própria lei, cobrando obediência e espalhando medo onde antes se vivia em paz.
❓ O que está em jogo
A guerra entre BDM e Comando Vermelho não é só uma disputa por rotas — é um espelho do abandono do interior baiano, onde a ausência do Estado criou espaço para o poder paralelo se instalar.
Hoje, quem manda em boa parte do Sertão não usa farda, mas fuzil.





