Enquanto o discurso oficial exalta o cuidado com os mais velhos, os bastidores do INSS revelam uma realidade bem diferente. Mais de 4 milhões de aposentados e pensionistas foram vítimas de um esquema de descontos indevidos que drenou cerca de R$ 6,3 bilhões dos seus benefícios — sem aviso, sem autorização e, claro, sem retorno.
A fraude, que atravessou governos, foi escancarada na operação “Sem Desconto”, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União. O golpe era simples: entidades supostamente representativas inseriam mensalidades associativas na folha dos aposentados com documentos falsificados. O resultado? Gente que mal consegue comprar remédio teve o benefício corroído por cobranças que nunca autorizou.
Agora, pressionado pela gravidade do escândalo, o governo federal — por meio do INSS e da AGU — tenta correr atrás do prejuízo. Estuda-se a criação de um canal direto para que as vítimas solicitem a devolução sem depender de intermediários (nem de “taxa de serviço”), e há promessa de que os descontos feitos em abril sejam ressarcidos em maio.
Mas quando se fala em devolver o que foi tirado ao longo de anos, o discurso muda de tom. A proposta oficial ainda está “em elaboração”, e a devolução total dos valores parece distante. Segundo fontes do Planalto, há até a possibilidade de uso de recursos do PAC e emendas parlamentares para bancar a reparação — ou seja, mais dinheiro público para consertar um rombo que nasceu da falta de controle do próprio Estado.
Enquanto isso, entidades envolvidas seguem sendo investigadas e servidores públicos supostamente cúmplices seguem sem punição.