Durante décadas, a Índia foi retratada como o retrato da precariedade sanitária global. Mas os dados mais recentes mostram que essa narrativa já não se sustenta. Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), compilado em 2022 e divulgado no ano seguinte, revelou que 52% dos indianos vivem hoje em residências com esgoto tratado de forma adequada. Um percentual que supera os 50% registrados no Brasil.
A mudança no cenário internacional não é apenas estatística — ela carrega simbolismo. Em 2000, o Brasil liderava com folga: enquanto 36% dos brasileiros tinham acesso a saneamento básico, apenas 6% da população indiana estava incluída nesse grupo. Vinte anos depois, os papéis se inverteram. A Índia chegou aos 52%. O Brasil, estagnado, viu seu ritmo ser superado.
A virada indiana foi resultado direto de uma política pública agressiva e de amplo alcance. Entre 2014 e 2019, o governo da Índia construiu mais de 110 milhões de banheiros, atingindo mais de 600 milhões de pessoas — quase metade da população do país. A estratégia incluiu medidas descentralizadas, como o uso de tanques sépticos, adotados em cerca de 40% das casas, e reconhecidos pela OMS como forma adequada de tratamento de esgoto. Mesmo sem universalizar o sistema público, a Índia conseguiu ampliar drasticamente o acesso e mudar sua realidade sanitária em tempo recorde.
No Brasil, a situação avança em ritmo bem mais lento. De acordo com o Censo de 2022, divulgado pelo IBGE em 2024, cerca de 62,5% da população brasileira vive em casas ligadas à rede de esgoto. Embora o número pareça superior ao da Índia em termos absolutos, os critérios metodológicos da OMS — mais abrangentes e com foco no manejo, não apenas na conexão à rede — mostram que a performance brasileira segue aquém da expectativa para um país que já teve décadas de vantagem.
O que os números escondem
Os dados jogam luz sobre um ponto central: a diferença entre prometer e fazer. A Índia decidiu enfrentar seu maior desafio sanitário com metas ousadas, planejamento público e execução rápida. O Brasil, por sua vez, segue marcado por projetos que se arrastam, orçamentos contingenciados e políticas que mudam a cada governo. A consequência está na saúde pública, no meio ambiente e na dignidade de milhões de brasileiros.
Reflexão soberana
Não se trata apenas de números. Trata-se de visão de país. A Índia deixou de ser sinônimo de atraso e passou a liderar um movimento de transformação com foco em infraestrutura e bem-estar social. Já o Brasil, mesmo com mais estrutura, mais recursos e mais promessas, ainda tropeça em problemas que deveriam estar no passado.
Quando uma nação com tantos desafios internos consegue avançar com velocidade e impacto, a pergunta que fica é: o que está faltando por aqui?