A Vara Criminal e de Crimes Contra a Criança e o Adolescente de Feira de Santana aceitou uma nova denúncia do Ministério Público da Bahia (MP-BA) e transformou o deputado estadual Binho Galinha e mais 12 investigados em réus. É o segundo processo formal contra o parlamentar dentro da operação que investiga uma organização criminosa com atuação consolidada na região há mais de dez anos.
A decisão, assinada pela juíza Márcia Simões Costa, marca mais um avanço em um caso que já vinha acumulando elementos robustos no âmbito da Operação El Patrón, deflagrada ao longo de 2024 e 2025. Mesmo após prisões, apreensões e medidas cautelares, o MP afirma que o grupo teria mantido atividades ilícitas para sustentar negócios, influência e um padrão de vida considerado “incompatível com a renda declarada”.
O que diz o Ministério Público
Segundo a denúncia, a estrutura criminosa nasceu ligada ao jogo do bicho e evoluiu para um esquema complexo que envolveria:
Agiotagem e empréstimos ilegais
Lavagem de dinheiro em larga escala
Receptação qualificada de materiais
Uso de laranjas para movimentações financeiras
Núcleo armado para garantir cobranças, intimidações e proteção do grupo
O MP descreve um funcionamento contínuo, mesmo após fases anteriores da operação. A manutenção das atividades teria sido garantida, inclusive, por familiares do deputado e por operadores financeiros que agiam como intermediários para ocultação de valores.
Quem são os novos réus
Além de Binho Galinha, já preso preventivamente, a Justiça também transformou em réus:
Mayana Cerqueira da Silva
Esposa do deputado. Segundo a denúncia, ela teria continuado a atuar no grupo mesmo durante período de prisão domiciliar.
Cristiano de Oliveira Machado
Apontado como responsável pela pulverização de valores ilícitos, utilizando a própria conta bancária para “esfriar” o dinheiro e dificultar rastreamento.
Müller Santos Souza
Apontado como operador do núcleo de agiotagem. Teve um Porsche apreendido durante as investigações.
Ao todo, a nova denúncia envolve 10 novos acusados e 3 que já estavam no radar da Justiça.
Por dentro da investigação
A juíza destacou que a denúncia “atende aos requisitos legais” por detalhar de forma clara os fatos, mesmo sem apresentação imediata de testemunhas. Ela também determinou que a Polícia Federal envie, em até 15 dias, novos elementos técnicos, entre eles:
Laudos dos celulares apreendidos
Perícias de armas e munições encontradas em residências ligadas ao grupo
Relatórios completos de anexos de prova já produzidos
Informações sobre bens apreendidos, incluindo o Porsche
Parte do inquérito, entretanto, foi arquivada por falta de elementos suficientes — especialmente no tocante a acusações de lavagem via honorários advocatícios, receptação qualificada e alegações de extorsão envolvendo Mayana Cerqueira.
Um caso que se arrasta há mais de uma década
O MP-BA aponta que o grupo adquiriu nova liderança em 2013, após a morte de Oldair José da Silva Mascarenhas, o “Dainho”. Desde então, teria se expandido e operado em Feira de Santana e municípios vizinhos, estruturando uma rede com funções específicas, hierarquia definida e forte inserção econômica na região.
Mesmo após deflagrações anteriores e apreensões de bens, o MP sustenta que a continuidade da organização criminosa se deu por meio de novos operadores, familiares e pessoas de confiança.
O que representa a nova decisão
A aceitação da denúncia não determina culpa, mas é um passo decisivo: abre caminho para instrução processual, oitivas, confrontos de provas e possibilidade de novas medidas judiciais. O caso segue em tramitação, agora com 13 réus oficialmente incluídos nesta segunda ação.





