Um centro de excelência em pesquisa agropecuária internacional, ligado à Ceplac, amanheceu sob ataque. Desde a última terça-feira (23), cerca de 340 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupam a Estação de Zootecnia do Extremo Sul da Bahia, em Itabela, paralisando as atividades científicas e comprometendo anos de trabalho técnico voltado à produção sustentável e ao combate às mudanças climáticas.
O local, referência em estudos de manejo de pastagens, sequestro de carbono e mitigação de gases do efeito estufa, abriga projetos com instituições do Brasil, Canadá e Estados Unidos. Agora, tudo isso está sob ameaça.
A ocupação, segundo o MST, é parte de uma mobilização nacional para pressionar o governo federal a retomar acordos de destinação de terras consideradas improdutivas para fins de reforma agrária. Apesar do discurso, a ação foi marcada por episódios de vandalismo: cercas destruídas, instalações elétricas clandestinas, curtos-circuitos, equipamentos danificados e impedimento de acesso aos servidores da Ceplac.
Funcionários da instituição relatam que experimentos importantes correm risco de perda total. A paralisação interrompe pesquisas estratégicas para a agropecuária brasileira e para políticas ambientais em escala global. Cientistas alertam que qualquer dano irreversível representa não só prejuízo econômico, mas também atraso no avanço do conhecimento.
O impacto da ocupação gerou revolta em diversos setores da sociedade. Nas redes sociais, a indignação se espalhou com críticas ao descaso com a ciência e à falta de resposta das autoridades. A Polícia Militar esteve no local, mas a ausência de uma ação mais contundente por parte do governo expõe a fragilidade do Estado diante de grupos que ultrapassam os limites do diálogo.
A Ceplac, que ao longo de décadas foi um símbolo de desenvolvimento agrícola na região, agora é palco de incertezas. A ausência de mediação institucional clara, a omissão do Ministério do Desenvolvimento Agrário e a morosidade na recomposição da legalidade agravam um cenário já crítico.
A pergunta que fica: até quando a Bahia vai permitir que a ciência seja feita refém de estratégias políticas mal conduzidas?