Brasília decidiu se recolher. Em meio ao julgamento da chamada “trama golpista” no Supremo Tribunal Federal, a Câmara dos Deputados adotou uma estratégia de silêncio e distância. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), autorizou sessões semipresenciais: parlamentares registram presença e votam pelo celular, sem a obrigação de estarem fisicamente em Brasília.
Na prática, a medida transforma o Congresso em cenário esvaziado, com a pauta limitada a temas de consenso. Nenhum projeto polêmico, nenhuma disputa que possa ecoar nas ruas. É a política escolhendo se blindar enquanto o Supremo avança sobre um dos capítulos mais delicados da democracia recente.
O movimento revela muito mais que um simples ajuste logístico. É um gesto político. Ao evitar a agitação no plenário, a Câmara sinaliza que não quer se transformar em palco de pressões ou conflitos no exato momento em que o país observa o julgamento dos principais acusados de atentar contra o Estado de Direito.
A decisão também expõe uma contradição: em tempos de crise, os representantes do povo recuam da arena pública, deixando para o Judiciário a condução dos holofotes. Resta ao cidadão a pergunta inevitável: quando o Brasil mais precisa de vozes firmes e transparentes, o Legislativo prefere o silêncio virtual.
É um silêncio que pesa. E que, de alguma forma, traduz a atmosfera de Brasília nesta semana — um centro do poder que parece querer passar despercebido diante da história.