O governo federal anunciou que, só no mês de julho, quase 900 mil famílias deixaram de receber o Bolsa Família. O programa, que vinha atendendo mais de 20 milhões de lares, agora cobre 19,6 milhões.
Na prática, o que aconteceu?
Boa parte desses desligamentos foi automática: famílias que passaram do teto de R$ 218 por pessoa tiveram o benefício cancelado. Outras perderam a chamada Regra de Proteção, que garantia a permanência no programa por até dois anos mesmo após melhora na renda. O governo reduziu esse prazo para 12 meses.
O discurso oficial é de “ajuste necessário” para tornar o programa mais sustentável. Mas a realidade é mais dura: nem sempre ultrapassar a linha de renda significa sair da pobreza. Muitas dessas famílias estão em trabalhos informais, instáveis, sem qualquer garantia de permanência. Saem do benefício sem rede de proteção — como quem solta a corda no meio do rio e espera que o outro saiba nadar.
Há também um detalhe cruel: o retorno ao programa é burocrático. Não basta apertar um botão. Quem perde o benefício precisa refazer cadastro, enfrentar filas e depender de vagas que podem nunca chegar.
Esse corte de quase um milhão de famílias pode até ser lido, no papel, como sinal de “recuperação econômica”. Mas nas ruas, o que se vê é outra coisa: famílias vulneráveis perdendo apoio em um país onde o básico — comida na mesa, escola, saúde — ainda não é garantido.
No fim, fica a pergunta: estamos reduzindo o número de dependentes do Bolsa Família porque o Brasil está realmente melhorando ou porque o governo apertou as regras para equilibrar a conta? Entre números e narrativas, quem sente de verdade são as famílias que ficam sem chão.