PSD, Kassab e o impeachment de Moraes

Nos bastidores de Brasília, a temperatura política voltou a subir. Segundo relatos de senadores, Gilberto Kassab, presidente do PSD — partido que hoje detém a maior bancada no Senado — teria tentado convencer parlamentares da legenda a assinarem o pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes, ministro do STF. A articulação, segundo interlocutores, foi direcionada especialmente ao grupo mais alinhado à direita dentro do partido.

Três senadores do PSD aderiram à iniciativa: Nelsinho Trad (MS), Margareth Buzetti (MT) e Lucas Barreto (AP). Já o senador Sérgio Petecão (AM) preferiu não assinar, apesar de publicar críticas ao STF e à postura dos ministros, assumindo uma posição ambígua.

Kassab, por sua vez, nega qualquer tipo de pressão. Porém, o timing chama atenção: pouco depois de o PSD apoiar a anistia aos condenados do 8 de Janeiro, Moraes determinou o retorno ao STF de uma investigação contra Kassab ligada à Lava Jato — processo que ele próprio havia arquivado em junho, após parecer da PGR. Agora, o ministro reassume a relatoria do caso.

O episódio escancara a fragilidade da relação entre Judiciário e partidos políticos. De um lado, senadores que veem em Moraes uma figura de poder quase absoluto, com decisões que extrapolam a esfera jurídica. De outro, um dirigente partidário que, mesmo negando publicamente articulações, já carrega histórico de denúncias e agora volta à condição de alvo no Supremo.

A disputa deixa claro um ponto: a democracia brasileira segue refém de acordos de ocasião. A cada movimento, expõe-se um jogo de forças onde nem partidos, nem ministros, estão livres de suspeitas. O risco é que, nesse embate, a população continue como mera espectadora de uma luta que deveria ser, antes de tudo, por justiça e equilíbrio institucional.

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