A tão sonhada Ponte Salvador-Itaparica continua sendo, na prática, apenas isso: um sonho. Anunciada como uma revolução na mobilidade da Bahia, a obra ainda nem saiu do papel — mas o pedágio já tem valor definido. Isso mesmo: o trajeto de pouco mais de 12 km, que ainda levará anos para ser construído, já tem tarifa estipulada em R$ 50 por carro, o mesmo cobrado atualmente no ferry-boat.
Segundo a nova previsão do governo da Bahia, as obras da ponte começarão apenas em 2026, com entrega estimada para 2031. Seriam, portanto, mais sete anos de espera. A concessão está nas mãos do consórcio liderado pela empresa chinesa CCCC (China Communications Construction Company), e a justificativa oficial é de que os estudos de viabilidade ainda estão em andamento.
Enquanto isso, o CEO da Concessionária Ponte Salvador-Itaparica tenta acalmar os ânimos. Segundo ele, a travessia será mais rápida — apenas 10 minutos — e “mais vantajosa”, já que o valor do pedágio seria por carro, independentemente do número de passageiros. A promessa é que “todo mundo no carro” pagaria o mesmo. Mas para quem está cansado de esperar por obras que nunca começam, o argumento soa mais como propaganda do que solução.
Em meio ao marketing da travessia, o que se esquece é o impacto direto no bolso da população. Com a ponte ainda inexistente, o anúncio do valor do pedágio parece mais uma estratégia de gestão do simbólico do que de obras reais. A ponte virou um monumento à espera. E a população, refém de promessas com data marcada para daqui a quase uma década.
A Bahia precisa de infraestrutura, mas precisa, acima de tudo, de respeito. Prometer para 2031 o que foi anunciado desde os tempos de Jaques Wagner e Rui Costa não resolve. Fixar tarifa antes de colocar um só pilar de concreto, menos ainda.
Enquanto isso, seguimos cruzando a Baía de Todos os Santos como há décadas: esperando, na fila.