Em um Brasil onde o discurso oficial é “defender os mais pobres”, a realidade vai no sentido oposto — e com fatura inclusa. A mais nova controvérsia envolve os irmãos Wesley e Joesley Batista, da JBS, conhecidos nacionalmente por protagonizarem delações explosivas na Lava Jato, confessando o pagamento de propinas a autoridades de todos os níveis. Mesmo assim, continuam arrematando oportunidades de ouro, com aval silencioso — e custoso — do governo.
Os irmãos compraram 12 usinas térmicas que estavam encalhadas no mercado há quase um ano. O motivo da estagnação? Dívidas milionárias. Nenhum investidor topava o risco. Mas bastaram dois dias após a compra para uma medida provisória do presidente Lula ser assinada. O conteúdo? A transferência de R$2 bilhões por ano — isso mesmo, por ano — para bancar os prejuízos dessas usinas. O valor, é claro, não saiu do bolso dos Batista. Saiu da conta de luz dos brasileiros, especialmente os mais pobres da região Norte, que já enfrentam tarifas pesadas e baixa qualidade no fornecimento de energia.
O “encargo” foi discretamente empurrado para a população via Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), um fundo setorial que abastece o sistema elétrico em áreas isoladas do país. A manobra, na prática, transfere o prejuízo das térmicas privadas para o contribuinte — tudo respaldado por uma canetada presidencial.
A cronologia é sintomática: compra das usinas → MP assinada → dívida transferida → povo paga.
E como fica o discurso de “justiça social”, “cuidar dos mais pobres” e “governar para todos”?
Fica no palanque.
A medida expõe um padrão preocupante: o de um governo que, entre defender interesses populares e atender aliados de peso do capital, não hesita em escolher os segundos. Os irmãos Batista não só voltaram ao jogo como agora jogam com as cartas marcadas. O prejuízo? Quem cobre é você, brasileiro comum, na fatura da luz no fim do mês.
