O desempenho das estatais federais no acumulado de janeiro a maio de 2025 acendeu o alerta em Brasília. Segundo o Banco Central, o setor apresentou um déficit primário de R$ 3,48 bilhões, o pior resultado para o período desde que a série histórica foi iniciada, em 2002. Trata-se do terceiro ano consecutivo de resultado negativo, revelando uma tendência de desequilíbrio estrutural em empresas que deveriam, ao menos, sustentar sua própria operação.
Esse rombo representa um crescimento de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Em contraste, a última vez que as estatais fecharam o período no azul foi em 2022, com superávit de R$ 5,1 bilhões.
O levantamento do BC integra o relatório “Estatísticas Fiscais” e considera a diferença entre receitas e despesas primárias das empresas controladas pela União — excluindo gigantes como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e BNDES. Ou seja: mesmo fora das grandes estatais, o resultado fiscal das demais empresas federais já compromete parte da saúde orçamentária do setor público.
📉 Déficit persistente e impacto sobre o Tesouro
O déficit recorrente das estatais pode parecer um dado técnico, mas tem implicações diretas sobre a economia. Em cenário de saldo negativo, o Tesouro Nacional pode ser chamado a realizar aportes ou conceder garantias para manter essas empresas funcionando. Em outras palavras, quando a conta não fecha internamente, o contribuinte paga a diferença.
🛑 Governo contesta os dados e diz que há “erro de interpretação”
Apesar da gravidade dos números, o governo federal reagiu com cautela — e até com contestação. A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, questionou publicamente a metodologia do Banco Central. Segundo ela, o déficit informado pelo BC tem natureza fiscal e contábil, mas não reflete o real desempenho financeiro das estatais.
Dweck argumenta que muitas das estatais apontadas como deficitárias na lógica do BC apresentaram lucros contábeis em seus balanços oficiais. Entre os exemplos citados estão o Serpro, com lucro líquido de R$ 685 milhões em 2024, e a Dataprev, com lucro de R$ 508 milhões, apesar de este último ser menor que os R$ 598 milhões registrados em 2023.
Para o governo, os números negativos refletem investimentos voluntários com recursos próprios, e não um desequilíbrio operacional. Mas para o mercado, o que importa é a pressão fiscal agregada que essas operações exercem sobre as contas públicas — especialmente num momento em que o próprio setor público federal já acumula déficit de R$ 33,7 bilhões apenas em maio.
🔍 Uma questão de transparência e confiança
Mais do que um embate técnico, o caso escancara um conflito de narrativas entre o governo e os órgãos de controle. O Executivo busca manter a narrativa de recuperação econômica e investimento público. Já o Banco Central apresenta números que, embora frios, expõem uma realidade preocupante: as estatais consomem recursos — e não têm conseguido equilibrar receita e despesa de forma sustentável.
❗Conclusão soberana
Em tempos de desconfiança fiscal e debate sobre meta de superávit, os números das estatais precisam ser interpretados com responsabilidade. A discussão não é apenas sobre lucro ou prejuízo no papel, mas sobre a confiança que o país transmite ao mercado, à sociedade e ao próprio contribuinte. Investimento com responsabilidade é bem-vindo. Mas gasto disfarçado de estratégia é, no fim, uma dívida com outro nome.