A declaração do senador Jaques Wagner (PT-BA) durante uma sessão solene no Senado, ao defender o extermínio do grupo Hamas, abriu uma nova crise dentro do Partido dos Trabalhadores e provocou reações imediatas em alas históricas do partido.
O discurso, feito em homenagem às vítimas dos ataques de 7 de outubro de 2024 em Israel, foi visto como um gesto raro de alinhamento com a retórica israelense dentro de um partido que, há décadas, mantém postura diplomática de apoio ao povo palestino e de repúdio à violência armada.
“O Hamas deve ser exterminado”, disse Wagner, que classificou os ataques como “covardes” e destacou ser de origem judaica. O senador ainda procurou diferenciar o Estado de Israel do governo de Benjamin Netanyahu, mas a fala foi suficiente para gerar um incômodo nacional dentro da legenda.
Nota de repúdio e fissura ideológica
Em poucas horas, o Núcleo Palestina do PT de São Paulo divulgou uma nota pública de repúdio, classificando a fala de Wagner como “pró-sionista” e “vergonhosa para os petistas”. O grupo afirmou que a declaração contraria a posição histórica do PT e do governo Lula, que têm buscado defender uma saída diplomática e humanitária para o conflito no Oriente Médio.
“O Hamas não é considerado grupo terrorista nem pelo Brasil nem pela ONU”, afirma o texto, citando o artigo 81 da ONU, que garante o direito de povos ocupados à autodefesa, ainda que armada.
O comunicado também reforça que o Hamas é um grupo político eleito democraticamente em Gaza, e que sua resistência é “uma resposta à ocupação ilegal israelense”. O núcleo palestino conclui que a fala do senador “ignora o genocídio do povo palestino e defende o sionismo e sua prática abominável”.
Constrangimento no governo e no Senado
A fala de Wagner criou desconforto não apenas dentro do partido, mas também no Senado Federal, onde o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil) — que também é judeu — não compareceu à sessão.
No governo, o episódio foi tratado com cautela. A equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta evitar um novo desgaste diplomático, sobretudo num momento em que o Brasil busca reposicionar sua imagem internacional como defensor do diálogo e da paz.
Entre a diplomacia e o fogo cruzado
A crise expõe uma divergência profunda dentro do PT. De um lado, um setor histórico ligado aos direitos humanos, à diplomacia e à causa palestina. Do outro, um grupo mais pragmático, que tenta equilibrar o discurso de paz com o repúdio a atos terroristas.
Wagner, um dos senadores mais próximos de Lula, agora enfrenta pressão interna e o desafio de explicar sua fala num partido que, desde os anos 1980, tem defendido o direito à soberania palestina.
No fundo, o episódio deixa clara uma tensão maior: como o governo brasileiro deve se posicionar diante da escalada de violência no Oriente Médio sem trair sua tradição diplomática — nem se afastar de um aliado histórico como Israel.





